Mauvais Genre, Chloé Cruchaudet

mauvais genre chloé cruchaudet

“Mauvais Genre”, quadrinho da francesa Chloé Cruchaudet, é uma história de amor. E uma história de amor real, que ganhou as páginas desta HQ e de um ensaio intitulado “La garçonne et l’assassin”, publicado em 2011, por ser quase incrível. Paul e Louise, o casal de “Mauvais Genre” se apaixona e se casa, mas ele é convocado para lutar na I Guerra. A experiência nas trincheiras é traumatizante para o jovem, que deserta. Ele volta para Paris e encontra a amada. Porém, na condição de desertor, precisa viver às escondidas, o que também é traumatizante, sufocante.

Paul encontra apenas uma solução: travestir-se. É assim que ele dá vida à Suzanne. Sob o disfarce, Paul ganha novamente as ruas de Paris, sempre com Louise ao seu lado. A trama se complica, contudo, na medida em que a personalidade de Paul e a de Suzanne se misturam.

A história de “Mauvais Genre” é bastante sombria e toda a transformação de Paul, que vai além da física, é muito bem retratada por Cruchaudat, tanto no modo como ela a narra quanto nos desenhos em si. Aliás, é a transformação de Paul – Suzanne o ponto alto do quadrinho: da necessidade de Paul a se reintegrar à sociedade à perda de sua identidade original. Mostrar o homem perdido em suas emoções, em seus traumas de guerra e em suas descobertas me parece o grande objetivo da quadrinista, até porque Louise fica um pouco à margem da história.

Vale observar que em nenhum momento, Paul é mostrado como um herói ou como uma vítima por sua coragem/necessidade de travestir-se – muitas de suas escolhas e atitudes são, no mínimo, de gosto duvidoso, sobretudo quando se trata de seu relacionamento com Louise. Não há, também, nenhum tipo de polêmica ou ataque ao personagem. Cruchaudet dedica-se a mostrar os conflitos de um homem que, ao voltar da guerra, não trouxe consigo parte de si próprio. E nisso o olhar da quadrinista é bastante sensível. E, apesar de parecer em segundo plano, o modo como Cruchaudet retrata Louise é bastante interessante. A esposa de Paul é forte e aceita a condição do marido não por submissão, mas por entender o que é ser livre, o que é ter o direito de sair à rua. E, quando chega a um impasse em sua relação, Louise não tem uma atitude passiva, resignada, submissa. Ela é forte e a todo momento expressa suas ideias e seus sentimentos.

Por enquanto, “Mauvais Genre” está disponível aqui no Brasil apenas em francês. Espero que seja, em breve, traduzido para o português, pois a leitura vale a pena.

 

 

Beleza e Tristeza, Yasunari Kawabata

beleza e tristeza yasunari kawabataÉ impossível ler Beleza e Tristeza, último romance de Yasunari Kawabata, e não sentir um certo tipo de incômodo. E era exatamente isso que o autor, prêmio Nobel de Literatura em 1968, desejava neste seu derradeiro livro. Afinal, tudo na obra conduz o leitor para essa sensação – o enredo, as personagens, a simplicidade da narrativa de Kawabata e todas as discussões sobre arte e sobre a vida levantadas na obra.

O enredo

Beleza e Tristeza narra a história de Oki Toshio, um escritor que na noite de Ano Novo viaja a Kyoto para encontrar sua antiga amante, a pintora Otoko Ueno. Eles se conheceram décadas atrás, quando Otoko era adolescente, e viveram um caso extraconjugal do qual ela nunca se recuperou. O encontro, apesar de rápido e superficial, faz reviver em ambos questões do passado jamais resolvidas. Ao ver a agonia de Otoko, sua aprendiz e amante, a jovem Keiko Sakami, tece um plano de vingança: seduzir Oki e seu filho Taichiro e, assim, acabar com a paz da família do escritor.

As personagens

As personagens de Beleza e Tristeza estão ligadas às artes. Oki é um escritor que alcançou sucesso a partir de um romance baseado em sua história com Otoko. Ela, por sua vez, é uma renomada pintora de temas tradicionais. É por meio da arte que ambos lidam com o sofrimento do amor mal resolvido. Durante o rápido encontro na noite de Ano Novo, Oki e Otoko não são capazes de expressar a dor e o sofrimento que carregam em si. São personagens de poucas palavras, que pouco se comunicam pela via do dito. Utilizam, para tal, a arte.

Pouco se revela sobre as duas figuras centrais de Beleza e Tristeza. Oki e Otoko podem ser desvendados em doses sutis, sobretudo, por meio do que se diz sobre a produção artística de ambos. E não se diz muito. São as personagens secundárias, contudo, que trazem alguma ação ao romance de Kawabata. A mais marcante é, sem dúvida, Keiko. Ela é a principal responsável pelos conflitos da obra, seja em seu relacionamento com Otoko, seja na relação com Oki e Taichiro, a qual tem como objetivo vingar o sofrimento de sua mestre. Destaca-se, ainda, o papel de Fumiko, esposa de Oki. Ela traz em si todos os conflitos sociais da trama ao encarnar a esposa traída e humilhada. Ao mesmo tempo em que exige do marido explicações, Fumiko resigna-se a seu papel de mulher ao permanecer fiel a Oki, atuando, inclusive, como revisora de seus livros.

A narrativa de Kawabata

Embora Keiko e Fumiko tragam alguma ação à trama, é a passividade de Oki e Otoko o ponto mais alto de Beleza e Tristeza. Não há como voltar no tempo e o drama do casal permanecerá. A narrativa de Kawabata concentra-se em mostrar a contemplação da realidade, da história que não mudará.

Neste contexto, a descrição de paisagens, lugares, bem como das telas de Otoko, é bastante delicada e traz no leitor justamente uma sensação de melancolia, mas também de beleza. Todo o tempo, o leitor tem a sensação de que está diante de um cenário sempre muito triste, mas sempre muito belo . Chegar ao estado de contemplação do enredo e da narrativa de Kawabata é fácil, afinal, Kawabata é um escritor muito sensorial, assim como quase tudo o que conheço da literatura japonesa.

Beleza e tristeza na arte e na vida

Em Beleza e Tristeza, Kawabata traz uma reflexão sobre o papel das artes. Em tempos em que se procura por conforto em tudo, Kawabata nos lembra que uma das funções da arte é provocar, de algum modo, algum certo tipo de incômodo. Ela deve levar as pessoas a pensar em algo, a sentir algo. Muitas vezes, o incômodo surge por meio de uma estética apresentada fora dos padrões. O feio pode estar presente, mesmo que seja para nos lembrar o que é, de fato, belo.

José Teixeira Coelho Netto apresenta no prefácio da edição brasileira de Beleza e Tristeza a ideia de que a beleza, como se sabe, sempre foi uma questão importante na cultura japonesa, que prega que se deve saber enxergar a beleza exatamente em tudo:

(…) a beleza da natureza (à qual pertence a bela mulher, tanto quanto pertence ela ao mundo da cultura), beleza dos sentimentos, beleza da reflexão, beleza da vida e beleza da morte, beleza de encontrar forças para continuar vivendo e beleza de encontrar forças para o suicídio e no suicídio; beleza da arte e beleza do erotismo e beleza do sexo, a beleza do pescoço longo e alvo da mulher amada e a beleza da navalha que por um instante se cogita de mergulhar naquela carne sedosa por nenhuma outra razão além daquela quase exigida por essa mesma carne ou pelo ato em si…

Talvez esteja nisso, na contemplação do belo em qualquer situação, a principal contribuição deste livro, da obra de Kawabata e da cultura japonesa.

A Festa da Insignificância, Milan Kundera

a festa da insignificância milan kunderaA Festa da Insignificância foi, talvez, um dos lançamentos literários mais aguardados e comentados do ano. Pudera: o autor é ninguém mais, ninguém menos que Milan Kundera e a Companhia das Letras, editora responsável pela publicação da obra no Brasil, fez uma senhora divulgação, além de uma edição linda, de capa dura – coisa fina. O livro que chegou às mãos do leitor, contudo, talvez tenha deixado uma ou outra pergunta no ar: “mas sobre o que é este livro?” / “mas o que é a tal insignificância festejada?”. Afirmo isso por alguns comentários que li e ouvi por aí.

Gosto de pensar que A Festa da Insignificância é mais simples do que aparenta. Os diversos curtos capítulos do romance estão centrados em quatro personagens, os amigos Ramon, Alain, Charles e Calibã, e destacam fatos e observações do dia a dia deles , como o papel do umbigo como nova zona erótica, o stalinismo, as relações amorosas, a conflito com a figura materna. Os eventos narrados são espaçados no tempo e cada capítulo parece desconectado, em alguma media, com os demais. Conectando todos os personagens há uma festa promovida por um quinto amigo, D’Ardelo, na qual todos se reúnem.

A narrativa de A Festa da Insignificância é bastante fragmentada e, num primeiro momento, nada parece fazer muito sentido. Contudo, o interessante do livro é olhar para ele capítulo a capítulo, procurando perceber o valor de cada um deles. Uma leitura mais atenta revela, então, o que há de importante para ser observado a partir das situações e observações banais vividas e realizadas pelos personagens. Um exemplo está já na abertura do romance, quando Alain passeia pelas ruas de Paris, observa  moças com blusas que deixam o umbigo à mostra e questiona os motivos que levaram essa parte do corpo (e não mais os seios, coxas e bundas) a ter importante papel erótico. O capítulo acaba – embora o tema seja retomado – e cabe ao leitor, se assim, quiser, refletir com Alain.

Este exercício realizado capítulo a capítulo conduz à percepção de elementos comuns à obra de Kundera, como a crítica à cultura ocidental, a individualidade, a superficialidade nas relações humanas e, também, nas produções artísticas.

Todos esses elementos servem, assim, para mostrar aquilo que me parece ser a tese de Kundera: estamos vivendo em um mundo de banalidades, de pequenos e sucessivos acontecimentos banais, sem significância, sem importância. E talvez nem nos damos conta disso. Talvez a insignificância se revele apenas quando refletimos (ou somos forçados ou conduzidos a refletir) sobre as pequenas coisas cotidianas. Ela, a insignificância, revela-se assim:

A insignificância, meu amigo, é a essência da existência. Ela está conosco em toda a parte e sempre. Ela está presente mesmo ali onde ninguém quer vê-la: nos horrores, nas lutas sangrentas, nas piores desgraças. Isso exige muita coragem para reconhecê-la em condições tão dramáticas e para chamá-la pelo nome. Mas não se trata apenas de reconhecê-la, é preciso amar a insignificância, é preciso aprender a amá-la. Aqui,neste parque, diante de nós, ela está presente com toda sua evidência, com toda sua beleza. Sim, sua beleza. Como você mesmo disse: a animação perfeita… e completamente inútil, as crianças rindo…  sem saber por quê, não é lindo? Respire, D’Ardelo, meu amigo, respire essa insignificância que nos cerca, ela é a chave da sabedoria, ela é a chave do bom humor.

 

Os melhores livros de 2014

Confesso: fiquei bem aquém nas minhas metas de leitura neste ano. É que a vida deu uma boa mudada. Nova graduação, nova profissão – que concilio com a antiga… Fui lendo conforme me sobrava um tempinho nas madrugadas da vida e, sim, faltou tempo e disposição para manter o blog em dia.

Bem, de qualquer modo, foram 24 livros lidos em 2014, mais um monte de livros e textos teóricos para a faculdade. Ainda assim, fiquei bem feliz. As leituras para a faculdade foram ótimas. E, na literatura, só li livro bom. Ok, dei aquela boa selecionada diante do pouco tempo, mas, ainda assim, só livro bom. Também fiquei feliz por ter lido mais quadrinhos e, principalmente, mais poesia. A grande maioria já está comentada aqui no blog. As demais ainda estão por vir.

E, como faço todo ano, listo aqui os 5 melhores livros que eu li em 2014. São eles:

melhores livros 2014

1 – O Arco e a Lira, Octavio Paz
2 – A Mulher Foge, David Grossman
3 – Ilíada, Homero
4 – Sentimental, Eucanaã Ferraz
5 – O Mestre e Margarida, Mikhail Bulgákov

Mes Hommes, Malika Mokeddem

mes hommes malika mokeddemHá alguns anos, li um livro interessantíssimo. Chama-se Histórias de Mulheres, da Rosa Montero. Nele, a escritora espanhola conta a história de diversas escritoras e artistas que romperam com as regras de seu tempo e tornaram-se célebres por seu talento e, também, por sua ousadia e coragem (apenas para citar alguns nomes: Simone de Beauvoir, Camille Claudel, Frida Kahlo, George Sand).  O nome da escritora argelina Malika Mokeddem poderia estar nesta lista. Não sei se por seu talento literário, já que de tal autora conheço apenas o livro sobre o qual falo hoje. Contudo, ela foi tão corajosa como as mulheres do livro de Rosa Montero. E Mokeddem conta a sua história em Mes Hommes.

Como o título deixa prever, Malika Mokeddem escolhe contar sua história a partir do relacionamento com os homens importantes de sua vida. O primeiro é o próprio pai.  Mokeddem passou a infância e adolescência na recém independente Argélia, numa sociedade em que a mulher não tinha voz nem vez. E ela percebeu isso ainda muito criança, no convívio com a figura paterna, que nunca a apoiou em seus desejos e escolhas porque para ele, e para todos os homens da época, meninas e mulheres simplesmente não tinham escolha. Contrariando a vontade dele e todas as expectativas, a jovem termina seus estudos e vai, também a contragosto, para a França estudar medicina.

Lá, contudo, Mokeddem entende que ser mulher é difícil também em uma sociedade mais liberal como a francesa. E se torna ainda mais complicado quando se é imigrante. A história de como ela se tornou médica, especialista em nefrologia, e, posteriormente, escritora de sucesso, é contada a partir do que ela viveu com diversas figuras masculinas: o irmão, o melhor amigo, o primeiro namorado, o primeiro marido, um affair, etc.

Não é que existam fatos na vida da escritora que a tornam uma super heroína. O que acontece com ela – relacionamentos mal fadados, súbitas mudanças profissionais, planos que não dão certo – pode suceder com qualquer um de nós. Exceto que muitos desses acontecimentos foram mais difíceis para mulheres imigrantes de algumas décadas atrás (assim como hoje muitas coisas ainda são muito complicadas para nós, mulheres. Não é à toa que o feminismo esteve e está presente e lutando por nossos direitos). A beleza do livro está em como Mokeddem narra suas história e toca em suas próprias feridas para mostrar que há algo de belo, além de importante, claro, nesta luta. Assim ela escreve e resume sua história (tradução minha, então, perdoem qualquer erro):

Eu deixei meu pai para aprender a amar os homens, esse continente ainda hostil justamente por ser desconhecido. E também devo a ele saber me separar dos homens. Mesmo estando apaixonada por eles. Cresci entre os meninos. Fui a única menina da minha classe do quinto ao último ano da escola.

Na residência médica, fui a única mulher no meio dos homens… Eu me fiz com eles e contra eles. Eles incorporam tudo aquilo que tive que vencer para conquistar a liberdade.

Extensão do Domínio da Luta, Michel Houellebecq

extensão do domínio da lutaNem sempre a biografia de um escritor diz respeito à sua obra. Contudo, creio que isso não se aplique ao francês Michel Houellebecq (e, se você não ouviu falar dele, prepare-se para 2015*).  Houellebecq é como seus protagonistas: solitário, pessimista, depressivo e capaz de mostrar o pior do mundo e da humanidade, mesmo quando deseja acreditar em um dos dois ou em ambos.

Extensão do Domínio da Luta é o primeiro romance de Houellebecq e já trazia sinais do que viria nos livros futuros. Nele, Marcel, o protagonista, é um engenheiro de informática que começa a prestar uns serviços para o Ministério da Agricultura da França. Apesar de a profissão dar uma ideia de um homem bem sucedido, o protagonista revela ser um homem infeliz, solitário, misógino, com um único objetivo: provar a impossibilidade das relações humanas – o que, penso eu, Houellebecq tenta provar em todos os seus livros.

E ao longo da narrativa o leitor quase se convence de que o mundo é mesmo um lugar terrível  e que nada vale muito a pena. O protagonista narra seu dia a dia em seu ambiente profissional ao mesmo tempo em que mostra a mediocridade do homem e de sua existência – seja pela incapacidade de conquistar uma bela mulher, pelo convívio com pessoas mesquinhas, pela inutilidade daquilo que fazemos profissionalmente, pela manipulação da mídia e da publicidade. E essa lista continua, acreditem.

O protagonista de Extensão do Domínio da Luta e o próprio Houellebecq têm em comum a capacidade de olhar o mundo quase que de fora dele e apontar o dedo para tudo aquilo que há de podre nele. Doa a quem doer. Neste livro em questão, o autor é até suave em comparação com o que estava por vir. Nos demais, Houellebecq falará abertamente sobre política e economia (francesa e mundial), religião, feminismo, cultura pop e compra briga com muita gente (mas já estou adiantando cenas dos próximos capítulos). E, embora o livro tenha esse quê de pessimista, não há como negar que ele é repleto de bom humor. No entanto, é como aquela piada da qual a gente sabe que não deveria rir, mas ri do mesmo jeito.

Extensão do Domínio da Luta foi publicado nos anos 90, mas é bem atual. Isso porque Houellebecq é como uma “antena do mundo”, captando antes de todos aquilo que vai acontecer – quer exemplo melhor do que Plataforma**? Já naquela época, a sociedade capitalista apontava para o individualismo sem medida que vivemos hoje, marcado por selfies, felicidade forjada nas redes sociais, etc, etc.  E aí você lê Extensão do Domínio da Luta ou qualquer outro romance de Houellebecq e volta para a realidade. Ou se lembra de que há um mundo fora daquela redoma que costumamos construir ao nosso redor. Em tempos de felicidade exacerbada e nem sempre real, é importante pensar na vida a partir de um ponto de vista completamente oposto ao que estamos expostos.

Ou seja, quer gostem, quer não, Houellebecq é um escritor necessário nesse mundo em que vivemos. E é genial no que faz.


 

* Houellebecq lança agora no começo de 2015 seu novo romance, “Soumission”. Segundo essa entrevista aqui ao Correio do Povo, o livro vai botar fogo na França. A história se passará em 2022, quando o Partido dos Muçulmanos vencerá a eleição presidencial francesa. Na mesma entrevista, o autor diz ter a certeza de que será o próximo francês Nobel de Literatura (eu amo o Houellebecq e, a essa altura, já não consigo mais esconder isso).

 

** Em Plataforma,  publicado em 2001, uma das grandes questões são os ataques terroristas provocados por fundamentalistas islâmicos, algo que, como sabemos, atingiu o ápice com o atentado às Torres Gêmeas e está na pauta até hoje. Bem, e antes, lá estava Houellebecq antecipando tudo isso.

 

 

Garoto Zigue-Zague, David Grossman

Há algumas semanas, escrevi uma resenha de “Garoto Zigue-Zague”, de David Grossman, para o Jornal Boca do Inferno, dos estudantes de Letras da UFPR. O resultado pode ser conferido abaixo.

jornal boca do inferno

resenha garoto zigue zague david grossman

Não são poucos os livros que buscam inspiração em Alice no país das maravilhas e que narram sagas incríveis, repletas de aventura e fantasia. É o caso de Garoto Zigue-Zague, escrito em 1994 pelo israelense David Grossman e lançado no Brasil neste ano pela Companhia das Letras. O livro mescla elementos extraordinários a situações bastante reais para lembrar o leitor da aventura que é crescer e tornar-se adulto.

Tal qual Alice, o garoto Nono é conduzido a um mundo bem diferente do seu, no qual se depara com uma série de pessoas e situações fantásticas. A poucos dias de seu bar mitzvah, Nono embarca em um trem de Jerusalém a Haifa com o objetivo receber conselhos de um tio não muito querido. A viagem é uma exigência do pai do garoto, Iacov, e de sua companheira Gabi – que cuida do garoto desde que a mãe dele, Zohara, morreu. A princípio, o passeio parece um presente de grego de Iacov, detetive e maior herói de Nono. Porém, Nono nunca chegará a seu destino previsto. Ainda no trem, ele conhecerá Felix Glick, um sujeito que, assim como o Coelho Branco de Alice, atrairá o garoto para viver uma grande aventura.

Garoto Zigue-Zague é um romance de formação. Os dois dias de aventuras narradas no livro não apenas marcarão a passagem de Nono da infância para a vida adulta, como moldarão sua personalidade. O que faz o menino aceitar o convite suspeito de Felix e desviar sua trajetória é muito menos a promessa de chegar ao seu verdadeiro presente de bar mitzvah e muito mais a possibilidade de encontrar a resposta para a pergunta que lhe é lançada: “quem sou eu?”. Até então, Nono acreditava ser um garoto com nada de especial, que sofre com problemas de comportamento na escola e que gosta de chocolate e do mar. Porém, a experiência ao lado de Felix o levará a investigar seu próprio passado e descobrir segredos sobre sua família que mudarão toda a sua vida.

Não, Garoto Zigue-Zague não é infanto-juvenil. Tampouco infantil…

Tudo indica que o leitor está diante de um livro infanto-juvenil, porém esta seria uma primeira impressão errônea. O narrador de Garato Zigue-Zague é o próprio Nono, já adulto, que relembra a aventura vivida dias antes de seu bar mitzvah. Contudo, o que interessa não é exatamente o que aconteceu com o menino, mas sim as questões reveladas ao longo desses acontecimentos. O leitor até pode encarar a obra como um livro de aventura, mas Grossman vai além. O que ele explora é a complexidade das relações humanas. Conforme a história se desenrola, Nono é “empurrado” ao mundo adulto e começa a entender e viver algumas dessas questões, como o difícil relacionamento entre Iacov e Gabi (ele nunca quis assumir o relacionamento com a companheira, que ameaçava, assim, abandoná-lo), as escolhas de Felix que o levaram a viver como um fugitivo da polícia e longe de sua amante, a atriz Lola Ciperola.

O livro atinge seu ponto alto quando Nono descobre a história de Zohara – até então, ela era para ele apenas a mulher que o trouxe ao mundo e morreu em seguida. Grossman traz à cena a figura de alguém muito à frente de seu tempo, que jamais se encaixaria na recém-nascida Israel e que jamais assumiria o lugar designado às mulheres de sua época: esposa e mãe de família. Ou seja, Zohara representa todo um grupo de pessoas “desajustadas”, com o qual o próprio Nono se identifica, e ela faz o que todo desajustado tentar fazer: buscar seu lugar no mundo.

A temática da passagem da infância para a vida adulta não é novidade para Grossman. O autor já retratou o tema em outras duas obras, Duelo e Ver: amor, ambas publicadas no Brasil. Em Garoto Zigue-Zague, Grossman coloca um menino de quase treze anos diante de importantes questões e decisões. Em sua aventura, Nono entenderá que os limites entre o certo e o errado são muito mais frágeis e muito mais complexos na vida adulta. E fica claro o quão confuso o menino se sentia diante dessa nova perspectiva de ver e compreender o mundo e o quanto a experiência foi enriquecedora para sua vida.

Vale destacar a estrutura narrativa de Garoto Zigue-Zague. Escrita de modo não-linear, aos poucos a obra revela pistas e fatos importantes para a compreensão da complexidade de cada personagem. Grossman esforça-se para atrair o leitor ao universo criado no livro (o que ele faz com maestria no romance A mulher foge – um livro que vale muito, muito a pena). O leitor mais atento ou com “faro de detetive” consegue desatar os nós e compreender a lógica da trama. Mas nada que compromete o livro, pois chega-se a um ponto em que o mais interessante não é saber o que vai acontecer, mas sim como.

O resultado é um livro cativante.  É difícil não se identificar, em alguma medida, com Nono, pois, Grossman evoca em cada leitor o garoto zigue-zague– aquele que não se enquadra em categoria alguma, que deseja ser livre e que aprende que crescer pode ser dolorido, mas é, de fato, libertador.

Argélia – Literatura argelina

Amigos e leitores,

Desculpem o desaparecimento. São muitos os compromissos, o que está atrapalhando – e muito – o meu ritmo de leitura e os livros que leio.

Ainda assim, gostaria de compartilhar com vocês que estou com muita vontade de estudar a literatura argelina. Isso porque, com exceção de alguns nomes que vocês também devem conhecer, pouco sei sobre a Argélia, sua história e, sobretudo, sobre sua produção literária. O desejo, pasmem, surgiu durante a Copa do Mundo. E algum dia, quando eu tiver um tempo, lerei os livros que comprei. São esses dois, de duas autoras contemporâneas. Não sei absolutamente nada sobre elas, encomendei os livros às escuras.

literatura argelina

O jornal O RelevO me mostrou esse belo poema da poetisa Samira Negrouche. Se você não achar bonito, você não tem coração.

il se peut

E, para finalizar, “Denia”, do Manu Chao.

O arco e a lira, Octavio Paz

o_arco_e_a_lira_octavio paz_livrosO que vem a seguir não é uma resenha. É um apanhado de anotações que realizei ao longo da minha leitura de “O arco e a lira”, de Octavio Paz.

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É bastante difícil ler “O arco e a lira” e não pensar que se está diante do maior tratado sobre a poesia e a atividade poética. Ou, pelo menos, diante de uma obra grandiosa. A edição da Cosac Naify, publicada no Brasil em 2012, começa com uma carta de Julio Cortázar a Octavio Paz na qual o escritor argentino afirma que seu entusiasmo e sua alegria diante da obra “não são atitude de um novato, e sim, de reconhecimento – por fim – de um trabalho profundo e completo sobre algo que é de longe um dos fogos centrais, se não propriamente o fogo central do homem”. Ao ler isso, você sabe (eu soube) que irá ler algo especial.

*

“O arco e a lira” está dividido em três partes: O poema; A revelação poética; Poesia e história. Nelas, Paz pretende encontrar as respostas para as seguintes perguntas:

  1. Há um dizer poético?
  2. O que dizem os poemas?
  3. E como se comunica esse dizer?

Ao longo da obra, o poeta e crítico reflete sobre o significado do poema, sua estrutura e sua importância no mundo ao longo de toda a história.

*

O poema

Paz inicia sua reflexão a partir da linguagem (o livro foi lançado em 1956, época do auge do estruturalismo francês). Para ele, o homem é homem graças à linguagem. Cada palavra ou cada conjunto de palavras é uma metáfora, isto é, é passível de mais de um significado. E é a união entre a palavra e a coisa que origina a reconciliação do homem consigo mesmo e com o mundo. Aqui, começamos a entender que o poema é um dos poucos recursos do homem para ir adiante de si mesmo, ao encontro do que ele, de fato, é. O autor aprofunda essa ideia: ele afirma que o poema nos revela o que somos e nos convida a ser o que somos. Com ele, Aquiles e Odisseu são algo mais que duas figuras heroicas: são o destino grego criando a si mesmo.

Então, Paz lança uma pergunta importante: “que sentido têm, se é que têm algum sentido, as palavras e frases do poema?”.

A partir desta pergunta, Paz começa sua reflexão sobre o ritmo dentro da poesia. E quando ele fala em ritmo, vai muito, mas muito além da métrica. O crítico afirma que ninguém pode escapar do poder mágico das palavras. Adiante, ele explica tal magia: todo fenômeno verbal traz em si um ritmo, algo como um imã responsável por mover todo idioma. Toda criação poética convoca, assim, o ritmo como um agente de sedutor. E não se separa ritmo e palavra poética do mesmo modo que não há como dividir ritmo musical e a dança – não se pode afirmar que o ritmo musical é a representação sonora da dança; tampouco que a dança seja a tradução corpórea do ritmo. Isto é, um existe com o outro, sempre.

E é aqui, olha que bonito, que Paz anuncia uma de suas “descobertas” acerca da poesia: o ritmo não é medida. É visão de mundo. Tudo o que chamamos de cultura, diz ele, tem suas raízes no ritmo; é inseparável de nossa condição. Cada sociedade possui um ritmo. Cada ritmo é uma atitude, um sentido, uma imagem de mundo. E esta imagem, por sua vez, é a ponte que o desejo constrói entre o homem e a realidade.

Para o crítico, a linguagem nasce do ritmo. E é aqui que entendemos uma diferença crucial entre prosa e poema. O ritmo se dá espontaneamente em toda forma verbal, porém, apenas no poema ele se manifesta plenamente. Sem ritmo, não há poema e só com ritmo não há prosa. Então, compreendemos por que a prosa (com todos os seus esforços para domar a fala) é um gênero tardio da literatura, enquanto a poesia pertence a todas as épocas – é uma expressão inerente à sociedade.

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Paz inicia no capítulo “Imagem” uma ideia que será essencial para a compreensão de boa parte do restante de “O arco e a lira”. Ele começa por contrapor o pensamento ocidental, que afirma que você é aquilo (em oposição a isto), e o oriental, que diz que você é aquilo e isto. O autor abraça o pensamento do oriente. A seguir, um conceito importante para o resto do livro:

“Pensar é respirar porque pensamento e vida não são universos separados, mas vasos comunicantes: isto é aquilo. A identidade última do homem e o mundo, a consciência e o ser, o ser e a existência, é a crença mais antiga do homem e raiz da ciência e da religião, da magia e da poesia”.

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Uma das questões abordadas pela filosofia é a definição de verdade. Para Paz, a verdade é uma experiência pessoal. O autor nos leva a pensar em um exemplo banal – uma cadeira mencionada em um poema. O poeta não descreve a cadeira; ele a coloca na nossa frente. Ela nos é dada com todas as suas qualidades e o leitor suscita em si o objeto que ele um dia percebeu. Ele recria a experiência da realidade, nos leva ao nosso cotidiano mais banal, mas também à realidade mais obscura. A cadeira pode, então, ser muitas coisas.

Logo, o poeta não quer dizer isto ou aquilo. Ele apenas diz.

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A revelação poética

Aquela ideia de o homem ser aquilo e isto fica mais clara nesta segunda parte de “O arco e a lira”. E será a partir dela que Paz explicará a revelação/atividade poética. Vamos por parte.

Para Paz, o homem sempre teve curiosidade pelo mundo do divino, que nos conduz a um mundo à parte, o mundo do sagrado. O crítico defende que entrar neste lugar à parte é possível. É possível pela habilidade do homem, a qual ele chama de salto-mortal.

“E talvez nossos atos mais significativos e profundos não passem de repetição desse morrer do feto que renasce como criança. Em sumo, o ‘salto-mortal’, a experiência da ‘outra margem’ implica uma mudança de natureza: é um morrer e um nascer. Mas a ‘outra margem’ está em nós mesmos. Sem nos mover, quietos, somos arrastados, impulsionados por um grande vento que nos expulsa para fora de nós. Ele nos joga para fora e, ao mesmo tempo, nos empurra para dentro de nós. A metáfora do sopro aparece repetidas vezes nos grandes textos religiosos de todas as culturas: o homem é desarraigado como uma árvore e arremessado para lá, para a outra margem, ao encontro de si. E aqui se apresenta outra característica extraordinária: a vontade intervém pouco ou então participa de forma paradoxal. Se foi escolhido pelo grande vento, é inútil que o homem tente resistir”.

Este outro que o homem encontra ao realizar o salto-mortal para a outra margem é ele mesmo. Causa a estranheza diante de si mesmo, da própria realidade, mas também diante de algo que a questiona: a identidade do próprio ser. É o fenômeno da outridade. Diante do outro, sempre há, primeiramente, a repulsa; depois a fascinação e,por último, a vertigem.

E a conclusão a que se chega depois do salto-mortal: este Outro também é eu.  É o nosso duplo,que tentamos capturar e sempre nos escapa. Este é o sentido da verdadeira solidão. E nada pode trazer o Outro de volta a não ser o salto-mortal.

*

Há uma semelhança muito grande entre o amor e essa experiência do sagrado – essa busca pelo Outro. Os poetas foram os primeiros a perceber tal similaridade. Seja na experiência amorosa, seja na experiência religiosa, o homem se imagina. Ao imaginar-se, ele se revela.

E todo amor é uma revelação, segundo Paz, um tremor que abala os alicerces do eu e nos leva a proferir palavras que não são muito diferentes das que o místico emprega. Na criação poética, acontece algo parecido. Ausência e presença, vazio e plenitude são estados poéticos tanto quanto religiosos ou amorosos. Logo, a experiência poética também é um salto-mortal; é uma mudança de natureza que também é a volta à nossa natureza original.

*

Paz lança mais uma questão importante: Que vontade leva o poeta a escrever? A resposta mais comum talvez seja a inspiração. Porém, nunca ninguém conseguiu explicar o que ela é de fato. Os iluministas encontraram na razão explicação para tudo, exceto para a inspiração; por isso, decidiram ignorá-la ou afirmar que ela não existe. Já para Freud, o poético é a revelação do inconsciente.

Para o crítico, a resposta para a inspiração está na outridade, nesta morte e ressurreição permanente. A outridade explicaria o enigma dessa outra voz que o poeta ouve assim:

O poeta está diante do papel. Está só. O mundo se abre e se fecha. O poeta, então, retrai-se; ele quer recordar a linguagem. Mas não há mais “atrás” para ir. Então, ele é lançado para frente e chega ao estado em que se encontra fora de si. É preciso, assim, inventar as palavras. O poeta não as tira de si. Elas também não vêm do exterior. Aliás, não existe interior ou exterior: somos no mundo e o mundo é um dos constituintes do nosso ser. O mesmo vale para as palavras. Então o poeta dá o salto-mortal, renasce e é outro. Ou seja, ele não ouve uma voz estranha – ele mesmo é algo alheio.

Assim, Paz define a inspiração como a manifestação da outridade. É algo/alguém que nos chama para ser nós mesmos. E esse alguém é o nosso próprio ser.

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Poesia e história

Nesta terceira parte, Paz pretende explicar como o ato poético se insere no mundo. Para ele,todo poema tem uma maneira peculiar de ser histórico. Percebê-lo é ver a realidade histórica e a sociedade no qual um poema está inserido. Aí o crítico analisa a atividade poética e a literatura nas suas mais diversas fases: épica, lírica, drama, prosa, além da poesia contemporânea.

Infelizmente, não pude fazer muitas anotações sobre esta última parte – que não deixa de ser interessantíssima.

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Essa edição linda da Cosac Naify ainda traz outros ensaios, todos bastante interessantes. Gostei muito do “A nova analogia: poesia e tecnologia”, no qual Paz discute qual o papel da técnica na atividade poética.

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O arco e a lira

Octavio Paz

Cosac Naify

Tradução: Ari Roitman e Paulina Wacth

O mestre e Margarida, Mikhail Bulgákov

o-mestre-e-margarida-mikhail-bulgakovArdiloso e engenhoso parecem-me dois adjetivos que bem definem a figura que convencionamos chamar de diabo. E é assim que o próprio é retratado em “O mestre e Margarida”, cultuado clássico do russo Mikhail Bulgákov. Publicado em 1966, o romance tornou-se um dos mais importantes da literatura do século XX por diversos motivos: sua estrutura narrativa, seu caráter político, seus personagens extremamente bem construídos. Inspirou até os Rolling Stones.

“O mestre e Margarida” divide-se em duas partes. A primeira concentra-se no diabo. Ele chega a Moscou comunista dos anos 1930 com sua comitiva, composta por um gato que assume hábitos humanos, um negociador, uma feiticeira e uma espécie de guarda-costas. Satã apresenta-se como Woland, um professor especialista em magia negra, e logo sua presença muda o destino dos intelectuais da cidade. Mas é no Teatro de Variedades, uma espécie de freak show, que o diabo revelará sua verdadeira intenção (um tanto moralizadora, a princípio): mostrar toda a mesquinhez do povo russo. Woland conduz seu show, tentando o público para que as pessoas tragam à tona sua verdadeira essência. Acontece de tudo – e uma narrativa fascinante: gente decapitada que consegue reconquistar sua cabeça, chuva de dinheiro (oi, quem quer dinheiro?), burguesia correndo pelada sem o menor pudor. Apenas para citar os exemplos mais marcantes.

Já a segunda parte do livro traz a história do mestre e de Margarida.  O mestre é um escritor que tenta publicar um livro sobre Pôncio Pilatos (e aqui entendemos a espécie de “evangelho segundo Pôncio Pilatos” que encontramos na primeira parte). Diante do insucesso de sua empreitada, o mestre vai parar em um hospício. Margarida, sua amante, tenta salvá-lo de lá e contará com a ajuda do diabo, que mais a fascina do que a assusta.

“O mestre e Margarida” pode ser muitas coisas. Pode ser apenas um livro que recorre ao fantástico e ao humor para contar uma história sobre o diabo. Pode também ser também sobre como o mal age – ou sobre como o deixamos agir. Pode, ainda, soar como uma sátira ao regime político stalinista e como uma sátira religiosa. E, de fato, Bulgákov constrói um único livro que é tudo isso.

Contudo, a obra vai além e reflete sobre o que é ser bom. A bondade que nos diz que é preciso dar a outra face a quem nos bate não traz um destino exatamente positivo. No livro, quem é bom termina seus dias na cruz (como Jesus) ou no hospício (como o mestre e o poeta da primeira parte, que foi dado como louco quando tudo o que queria provar era que Woland era o demônio em pessoa e que este havia matado seu amigo). O diabo não aparece como um ser que luta contra algum deus. Ele está mais preocupado em dialogar com os homens – tanto é que, na obra do mestre, ele se volta mais a Pilatos e a Judas do que a Jesus – e a mostrar que a astúcia, isto é, a sabedoria de viver, vale mais do que uma bondade puramente gratuita.

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Hoje não tem um trecho do livro porque eu quero muito que todos vocês que visitam o blog leiam o livro inteiro! E, também, porque esqueci de anotar as páginas de referência.

 

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Este livro não se encaixa em nenhuma categoria do Desafio do Livrada. Aliás, se quiserem conferir como anda meu desempenho, confira abaixo:

1- Um clássico da literatura brasileira

2- Um clássico esquecido da literatura mundial

3- Um livro do seu autor favorito: “A possibilidade de uma ilha”, Michel Houellebecq *

4- Um livro de contos

5- Um livro que não foi te indicado por ninguém: “A Mulher Foge”, David Grossman

6- Um livro com mais de 500 páginas: “Ilíada”, Homero

7- Um livro de poesia: “Sentimental”, Eucanaã Ferraz

8- Um livro escrito por alguém com menos de 40 anos

9- Um livro escrito originalmente em um alfabeto diferente do seu: “O Retrato”, Nicolai Gogol

10- Uma graphic novel: “Azul é a cor mais quente”, Julie Maroh

11- Um livro publicado pela primeira vez neste ano: “Garoto Zigue-Zague”, David Grossman**

12- Um livro de não-ficção

13- Um volume de alguma trilogia ou série: “1Q84″, livro 3, Haruki Murakami

14- Um livro que algum amigo te enche o saco pra ler: “Espinhos e Alfinetes”, João Anzanello Carrascoza

15- Um livro escrito por uma autora : “A Elegância do Ouriço”, Muriel Barbery

*Não fiz uma resenha, mas escrevi uma tentativa de ensaio sobre Michel Houellebecq.

**A resenha deste livro será publicada em outro lugar. Depois postarei aqui também.